26.4.10

a hora do planeta

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd-RLj8h-q3wXxaSnvKB9X5Fmf028b_xrhVkHrXUJeCHIrBlt0s4GF34lgKGnnTHtFVPsyUVyAAVjaoVm-vVHX6H3N9teu3DzmaJBiKg2FLdYchakRX2o1xeaLqfUI6mgUFq_NSw/s1600/planetabolablog.gif

Quando eu era criança e até bem pouco tempo atrás, o dia 22 de abril era lembrado como o dia do "Descobrimento do Brasil", assim, com letras maiúsculas, cheio de orgulho cívico (que é uma coisa mais déspota e militar do que civil ou popular), e meio que confundia-se com o feriado de Tiradentes, do dia anterior. Aos poucos, as coisas estão mudando: hoje temos uma liberdade de expressão maior e com ela ganham força as comemorações, que acontecem mais em forma de questionamento do que de orgulho, do Dia do Índio (19 de abril) e do Dia Internacional da Terra, que começou em 22 de abril de 1970 nos Estados Unidos, como uma importante manifestação em favor da preservação do meio ambiente, e ganhou força internacional a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Não quero dizer que devamos esquecer a data histórica da chegada de Cabral; pelo contrário, tal evento foi importantíssimo para a construção do “gigante do continente sul-americano”; mas acredito que cada vez mais será o “aniversário” de um acontecimento a ser visto com espírito crítico, questionando e revisando sempre a história (o que é o papel da própria História, como ciência) e ainda assim celebrando o início de um novo país.

A coincidência do dia do Descobrimento com o dia da Terra pode se tornar bastante interessante, uma vez que a própria realidade da globalização cultural começou, de fato, nos grandes descobrimentos (lembrando que em 1500 apenas o continente da Oceania permanecia ainda desconhecido da grande e conquistadora civilização européia). Continentes e povos conquistados, novos países formados e supostamente emancipados, e o processo de destruição da natureza vem acelerando-se em progressão
insanométrica! A hora é de refletir sobre o que estamos fazendo com o nosso mundo. Começamos destruindo nossos pequenos mundos, jogando lixo no barranco do outro lado da rua, queimando o mato... e de repente todos nós estamos destruindo o único mundo que de fato temos, globalizado pela humanidade e maltratado por todos nós, humanos. A hora é de refletir e de tomar atitude. Respeitar o meio ambiente, a vida, o planeta... é coisa séria!

19.4.10

Tempo de tupiniquizar o Brasil!

Pessoal, esse é o meu priminho Krwmym, que mora na Amazônia, numa das poucas aldeias que restaram nesse continente, onde ainda é possível viver de um modo semelhante à forma como os habitantes nativos viviam antes da sua conquista pelos europeus. Estas são cenas de uma das minhas histórias em quadrinhos ainda inéditas, intitulada "Choque de culturas", q será publicada no segundo semestre deste ano, impressa, de acordo com o atual cronograma do projeto do meu gibi!
Hoje, 19 de abril, é um dia simbólico pra lembrarmos que há alguns séculos o mundo deste lado do Atlântico era diferente, havia nele uma cultura autóctone (mim falar melhor que índio americano em filme do velho oeste!...rsrs); infelizmente, essa cultura não foi respeitada quando chegaram a estas terras os habitantes de um velho mundo, que se dizia mais desenvolvido mas que cultivava a cultura da guerra e da depredação. E não foi apenas a nossa cultura que foi massacrada, todos sabemos disso. Milhões de índios perderam suas vidas pela força, pela doença ou pela miséria causada pelos colonizadores. Pior: isso acontece ainda hoje, quando madeireiros ilegais e grileiros expandem suas áreas de exploração extrativista e agro-pecuária sobre os poucos territórios onde sobrevivem os descendentes das etnias silvículas. Cultural, social e economicamente, ainda somos massacrados por uma sociedade demasiadamente consumista, que explora e aliena não apenas índios, mas talvez toda a população desse país!

É tempo de perdoar erros antigos, mas também de revisar toda a História e recontá-la com a ajuda dos que foram conquistados e escravizados, ou seja, os remanescentes índios e os descendentes de origem africana, dos colonos europeus e asiáticos que foram explorados, dos filhos de portugueses e espanhóis pobres que também sofreram porque não participavam da nobreza nem da realeza. Afinal, hoje, todos formamos o país que luta por sua emancipação moral diante do mundo. Estamos produzindo uma nova cultura, e talvez uma nova etnia, e a participação do índio e do descendente indígena, bem como daquilo que ainda sobrevive ou pode ser resgatado de nossas tradições nativas, é imprescindível nesse processo. Um dia, teremos uma cultura autóctone de novo, e uma raça brasileira, da qual nos orgulharemos muito. Mas o que me enche de esperança é saber que essa nossa cultura e raça brasileira poderá se relacionar pacificamente com todas as outras raças e culturas... a menos que sejamos ameaçados de novo! Nesse caso, que as lições do passado sirvam para nos ensinar a lutar e defender nossas vidas e honra, nossas crenças, tradições, nossas matas, nossa natureza e nossa ciência!

Enquanto caminhamos para a construção desse país soberano, lembremos sempre dos seres humanos que chegaram primeiro, que respeitaram o meio ambiente e com ele conviveram harmoniosamente. E lembremos que graças a Deus (ou a Nhanderú, se preferir!) ainda há muitos deles entre nós, nas matas como o meu priminho Krwmym, nas reservas, algumas bem amparadas e outras muito necessitadas, e nas cidades, como eu, filho de índios que vieram para a sociedade estudar, trabalhar e lutar pela nação que se desenvolve, sem deixar de ser índios. Aqui nos quadrinhos isso é possível, mas não quero ser apenas uma utopia. O Tupinanquim ambiciona uma identidade para o Brasil, e representa os abás, as cunhãs, os curumins e cunhantãs que sobrevivem com os espíritos tupi, guarani, gê, cren, pareci, goytacaz, aruaque, guaycurú, tapuia, pano-kaxinauá, etc; e também os filhos da europa, da áfrica e da ásia que quiserem adotar a condição de ter um coração tupiniquim!
Tupinanquim

PAIQUERÊ

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG2M45KBODz7d90DaK2mXuGCEjeqSmYl2iJYbec7gje5IYT6d8gxMy1aKncqevOqX7huRg0YLJHXAtLQZLbPD8d0dIMmn8V6hnFlcUITzCm9KshiitR6EO1olaDrougCvzn-5RBw/s1600/cachoeira-tupinanquim.jpg"Todos os índios do sertão de Guarapuava informavam do mesmo modo: os campos do Paiquerê eram os mais belos, amplos e férteis do ocidente, riscados por límpidos ribeiros que corriam sobre brancos seixos para os grandes vales do Ivaí, do Piquirí e do Iguaçu.
À luz do sol e da lua, sob o fulgor das estrelas ou sob a cúpula do firmamento de azul pleno e tranqüilo, a grama eternamente verde do Paiquerê infinito era o pasto, o leito e o ninho de uma fauna de incontáveis espécies, magnífica e deslumbrantre de beleza.
(...)
E os capões bailavam, rodando à passagem dos caminhantes, no movimento da vida farta, num contágio de eletrizante alegria.
A natureza ali exsurgia em tudo numa glória eterna e incomparável, na paz festiva da abundancia e da fraternidade.
Mas onde era esse rincão do Paraíso?
Todos os índios o descreviam aos férreos homens de aventura e de cobiça de aqueles tempos de dantes, mas esses homens partiam sorrindo à sua conquista e se perdiam no sertão!
Guiavam-se pelas aves em revoada, pelo marulho das águas, pela limpidez translúcida do céu, pelo rugido da Puma e se tresmalhavam na floresta!
Caminhavam pisando urzes sem senti-las, dentro de um sonho, alimentados de desejo e de esperança, e aniquilados por fim estatelavam diante da realidade vencedora da selva e da Montanha!
Onde era, então, o Paiquerê?
***************
O Paiquerê era como a Felicidade: estava em toda parte e em parte alguma! Sem cobiça via-o o índio, estendido e luminoso, farto de frutos, nas terras altas, perto do céu, junto das águas mansas da terra antiga e acolhedora.
Não o via, porém, o egoísta, e entretanto ele ali estava, cobrindo das flores de ouro dos ipês as cabeças dos aventureiros, irradiando para todos os rumos da amplidão o canto das aves que passavam batendo as multicores asas sonorosas bem perto do ambicioso!
***************
Quantas vezes também nós andamos, na alucinação dos desejos, por toda parte procurando, sem nunca encontrar, uma visão sedutora como o Paiquerê!"...

MARTINS, Romario. Paiquerê – Mitos e Lendas, Visões e Aspéctos. Curitiba: 1940. (p. 9-10; ortografia atualizada)
___________________________________________________
Gostaram do texto? Romário Martins, escritor e historiador paranaense, representa, dentro dos temas indígenas para o Estado do Paraná, o mesmo que o General Couto de Magalhães representa nestes mesmos temas para o Brasil.
Hoje é o DIA DO ÍNDIO, uma data simbólica e extremamente modesta criada para homenagear os habitantes nativos do nosso continente, e suas culturas peculiares das quais resta um pouquinho, hoje, no dia-a-dia de todo o povo brasileiro. Infelizmente, a valorização e o respeito ao meio-ambiente natural com sua riquíssima biodiversidade e belíssimas paisagens não foi assimilada pelo colonizador europeu q determinou a maior parte de nossa cultura "civilizada"; mas ainda restam os recônditos entre as montanhas, como mostra o cartum acima.
Esse desenho, pintado com tinta acrílica, é de 1998, e tornou-se o adesivo mais vendido do curumim urbano na época. Também é uma das ilustrações presentes no meu livro de poesia Desenhos de linguagem. Durante o dia vou postar mais algumas homenagens e reflexões sobre a questão indígena. Acompanhe!
Erick Artmann

16.4.10

desenhistas!

Ontem, 15 de abril, foi o dia do desenhista! E estamos postando a HQ com um dia de atraso por culpa dele, claro: o meu desenhista.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoTkI-VhUQApJNQJMFH0zyuu8iG8OjcQcl7bjt4Hg1MoZxtkwMWrR-YB9BlLtd8dre0ZgEzMRO7z5zS_Fi93-aT48uk8UjDO1NFm5ywYhUPMTWBRoys0808MVZBXDHUhSJEcmxzA/s1600/desenhistaBLOG1.jpg
Estou postando a homenagem, eu, personagem de HQ, que não existiria sem o escritor e o desenhista, que no meu caso são a mesma pessoa; mas a história vem de longe: dos desenhos nas paredes das cavernas, passando pela história egípcia contada nas paredes das pirâmides e outros monumentos, pelos grandes pintores artísticos e também desenhistas técnicos, os projetistas, arquitetos, engenheiros que colocaram antes no papel muito do q hoje é a a cultura e tecnologia material da nossa civilização. Ei... será que Deus desenhou o universo antes de criá-lo?!
O século XX foi o século do desenho: animado, em quadrinhos e cartuns, na publicidade, nos video-games! Já no século XXI, com a realidade virtual da computação (na arte) gráfica, realidade e desenho começam a se misturar. Breve, personagens de ficção serão confundidos com personagens reais... mas o charme de um personagem e de qualquer objeto de arte, como arte, dependerá sempre... do artista! Então viva os desenhistas, todos os dias!
Em tempo: hoje é o dia da voz; e graças ao desenho, à linguagem escrita e a essa maravilha q é o computador e a internet, to eu aqui ganhando voz no planetinha azul! Ayumana!

Créditos finais da HQ: o Onça-lino é uma criação do Leon, o Carne Moída é do Mozart e o Super Lanterna é do Alexandre, os personagens reais em que se baseia essa turma.

11.4.10

os arroios urbanos

Bom, depois da brincadeira de primeiro de abril (que homenageou a velha editora Abril e todo aquele seu universo de quadrinhos infanto-juvenis de algumas décadas atrás), vamos falar um pouco sobre os gibis reais e já publicados do nosso curumim urbanóide. Decidi começar justamente pela última publicação impressa, "Os arroios urbanos de Ponta Grossa", por tratar-se de um gibi educativo, q fala sobre o meio-ambiente e a importância da preservação dos arroios e matas ciliares, e também de uma questão importante e atualíssima que é a urbanização dessas áreas.
Nesta aventura, publicada pela Secretaria Municipal de Turismo e Meio-ambiente da prefeitura de Ponta Grossa, Pr, em 2004, o Tupinanquim e seu pai, o Tipuxáua, visitam a cidade de Ponta Grossa para conhecer os arroios, com sua importância, e também os problemas acarretados pelo avanço da cidade sobre essas áreas de grande fragilidade aos impactos ambientais. Em Ponta Grossa eles são recebidos pela Princesinha dos Campos Gerais, apelidada pelo Tupi de "A menina dos olhos d’água do Paraná”, que é também o título da história, e por seu tio Fritz, uma espécie de cientista maluco (ou nem tanto...).
Há muito tempo eu queria fazer uma cartilha ou gibi falando sobre a importância da preservação das margens dos nossos córregos, pois sempre fui apaixonado pelas paisagens naturais da região e já trabalhava com causas ambientalistas numa ONG; também morei, quando criança, perto de um desses arroios que com o tempo foi engolido pela cidade, sepultado em manilhas, concretado. A oportunidade apareceu quando o então governo municipal desenvolvia um projeto interessante, que previa, entre outras coisas, a desocupação das margens desses arroios, relocando, ou seja, oferecendo às pessoas que moravam nas margens (principalmente quando áreas de risco) casas melhores em áreas próximas, porém seguras; e então replantando as matas ou criando áreas de “parques lineares” ao longo dessas margens.
Mas no gibi pudemos falar bem mais do que isso. Na HQ, enquanto os quatro personagens visitam alguns arroios com maiores e menores graus de interferência urbana, os adultos explicam e discutem as questões relacionadas, e nossos jovens heróis ficam fascinados com algumas belezas ainda encontradas e ao mesmo tempo tristes com a degradação do ambiente e os riscos a que as pessoas que vivem ali acabam se submetendo por causa disso.
Os problemas com nossos arroios e com as encostas dos morros, também ocupadas de forma irregular, não acabaram e alguns casos até se agravaram, especialmente nessas épocas de chuvas fortes, quando ocorreram enxurradas, pequenas enchentes, e recentemente alguns deslizamentos de encostas, não tão graves como as tragédias que acabamos de ver no Rio de janeiro, mas mesmo assim riscos às vidas de alguns cidadãos... riscos que poderiam ser evitados se os problemas sócio-ambientais fossem tratados com seriedade por todos os governos, e a educação ambiental fortalecida. E isso, claro, deve acontecer em todas as cidades do nosso país! A nossa grande esperança ao trabalhar temas educativos com os personagens de quadrinhos, destinados à infância e à juventude, é que um dia as mensagens que nossos pequenos heróis da ficção estão transmitindo sejam de fato praticadas pelos cidadãos e quiçá heróis da vida real.
(páginas 9 e 10. clique sobre elas para ampliá-las)

4.4.10

escalando

Para os guarani, a nação à qual pertencia a tribo de Jacyendi, minha mãe, havia um Deus maior do que todos chamado Nhanderu Ete, filho de Tupã Jasuka, a energia criadora! Nhanderu Ete desposou Nhande Syete, a nossa deusa mãe, e assim nasceu o primeiro homem a habitar a terra: Nhande Ypi, o nosso tataratatataratatataratataravô ou o Adão na cultura guarani! Depois de muitas longas aventuras mitológicas, algumas muito parecidas com as histórias da bíblia como aquela do dilúvio (q existe também em quase todas as culturas muito antigas) e outras muito diferentes, em um certo momento Nhanderu Ete enviou Nhanderu Ra'y para ensinar aos homens o caminho do bem, do respeito a todos os povos e a todas as formas de vida.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNV2y4njgio-Bo82IjMR-MjfMi7HISumhluuQGvpowzuoJieyThnLMxQNjHIdtZ0FcPSPXUxLZwH0rtYG7NvHh_A__oZwcAC-CM4bmJ_J2xYuc6FQntMiCJhyphenhyphenhyNLOEgOcQ7tT0w/s1600/montanhafe2010.jpg
Nhanderu Ra'y é, para muitos, a versão guarani de Jesus Cristo. Alguns dirão q foram os jesuítas que fizeram essa comparação modificando um pouquinho as nossas lendas originais. Seja como for, hoje comemoramos a páscoa, que já é uma mistura de diferentes tradições, mas tem como personagem principal aquele que pode ser considerado o maior herói da humanidade. Pra mim não importa se a história de Jesus Cristo é ficção ou realidade, afinal a minha história também é uma ficção e aqui estou eu, passando uma mensagem que poderá ser lida e vista por muitas pessoas, e as pessoas devem julgar se essa mensagem é ou não importante pra elas. Também não culpo Jesus nem aqueles que escreveram a sua história pelos crimes q os colonizadores europeus, inclusive os chamados "jesuítas", cometeram contra o meu povo: afinal isso tudo foi muito depois da história de Jesus ter acontecido ou ter sido escrita por seus primeiros seguidores.

Então deixo aqui a minha mensagem de fé, fazendo um trocadilho com a frase original de jesus, que dizia q a fé pode mover montanhas. Bombas também podem mover montanhas, o legal mesmo é escalar, e é isso q devemos fazer em nossas vidas até alcançarmos os objetivos mais altos ou complicados q consideramos importantes!

Por fim, quero aproveitar que estou falando em Jesus Cristo pra indicar uma leitura um pouco diferente sobre esse cara, em quadrinhos: é o álbum Yeshua - assim em cima assim embaixo, de Laudo Ferreira e Omar Vinhole.

Ah, sim: as informações sobre Nhanderu foram baseadas especialmente no livro Kyvy Mirim, de Brígido Ybanhes e Márcia Széliga, e no texto de Ozias Deodato Alves Jr, que pode ser encontrado nesse link http://www.staff.uni-mainz.de/lustig/guarani/floripa/ .