27.7.09

Volta às aulas!

A maioria das escolas está reiniciando as aulas nessa semana, portanto uma boa oportunidade pra publicarmos essa tirinha, inédita, que tem como tema o estudo e a língua portuguesa. Essa é a primeira tira que postamos neste blog, primeira de muitas que virão, umas inéditas, outras já publicadas no fotolog ou por aí! Mas esse post é também a estréia de uma série de reflexões que estaremos publicando, em quadrinhos e em texto, acerca de temas bem atuais como a linguagem, a censura [isso mesmo, infelizmente ela está voltando ):], a saúde e o meio ambiente, que interessam a quadrinhistas, professores, amantes das artes e ao público jovem e adulto, em geral! Mas não se preocupem, o Tupinanquim não vai se tornar um personagem exclusivamente didático, e continuará aprontando as suas travessuras aqui pela net e vivendo emocionantes aventuras, que deverão finalmente ser publicadas num gibi impresso, até o fim do ano! [excessaumblog.jpg]

S’s são as regras?! :P

Hoje em dia, é muito comum vermos tiras de quadrinhos em livros didáticos, especialmente de língua portuguesa. Afinal, a "tirinha" é uma das formas mais divertidas de comunicação e expressão que já foram inventadas. Folheando um único livro da sexta série[1], encontrei quadrinhos da Mafalda (a personagem que mais apareceu), Garfield, Calvin, Hagar, Recruta Zero, Bidu, Chiclete com Banana, os gatos do Laerte, Família Brasil do L.F. Veríssimo, O Pato da Ciça, o Mago de Id, de Brant Parker e Jonny Hart, além de cartuns do espanhol Mordillo, diversos outros cartuns do Quino (autor da Mafalda) e uma tira de Luis Agner. Na maioria dos casos eram tirinhas com diálogos simples, e o que se pedia era a análise e interpretação do texto. Isso só pode acontecer, é claro, quando os autores (ou tradutores) escrevem seus diálogos e narrativas corretamente; infelizmente, é muito comum a gente encontrar quadrinhos publicados na internet e até mesmo em algumas revistas com erros ortográficos, especialmente de acentuação e pontuação. Esses errinhos, mesmo não sendo falhas graves, acabam prejudicando não apenas o autor dos quadrinhos, mas a imagem da HQ como esse instrumento genial de comunicação e expressão acessível a todas as classes e idades! Além disso, como autores nós temos certa responsabilidade diante dos leitores; a influência existe, e de tal forma que uma pessoa que escreve corretamente pode se tornar desleixada com a sua redação se a sua leitura trouxer textos desleixados. Nesse aspecto, a minha sugestão aos “escritores” de quadrinhos é que revisem sempre, e procurem tirar as dúvidas, quando houver, em livros ou consultando alguém que conheça melhor a língua; voltarei a escrever sobre esse tema trazendo algumas dicas importantes num próximo post. É que além da questão dos erros, há tantas “boas” curiosidades referentes à linguagem que podem ser encontradas nos quadrinhos, e quero falar um pouco sobre isso...

Assim, com essa tirinha e esse texto, hoje, eu inicio uma nova série de postagens temáticas. Nos próximos dias publicarei outras tiras e cartuns semelhantes, algumas inéditas, como esta, comentando aspectos da linguagem interessantes que podem ser utilizados com ótimos resultados em uma tira ou história em quadrinhos. Nesta tira, por exemplo, você é capaz de reconhecer os elementos da “metalinguagem” presentes em todos os quadrinhos, especialmente no último? Bem, vamos lá: a conversa do Tupinanquim com o leitor é talvez a mais comum forma de metalinguagem utilizada nos quadrinhos de humor. É só lembrar que a turma da Mônica faz isso sempre... Mas observe que o comentário do Tupi faz referência a algo que pode ser observado do primeiro ao último quadrinho: as formas como aparece a palavra “exceção”, com erros nos primeiros quadrinhos, indicam coisas importantes: no primeiro, mostra a confusão do personagem , que não faz idéia de como escrevê-la; no segundo, mostra como a mãe do Tupi “pensa” a ortografia das palavras enquanto explica. E no terceiro quadrinho o Tupi se refere à forma confusa como a palavra apareceu escrita no início, mas essa forma escrita só existe para o leitor, não para o personagem na ficção, que se expressou oralmente. Essa referência ao texto dentro da própria história, mesmo quando aparece de forma sutil, disfarçada, é o que caracteriza a chamada metalinguagem: ou seja, é uma extrapolação, um abuso dos recursos da narrativa dentro da própria ficção que, nesse caso, interage com a realidade. Claro que essa interatividade entre os dois mundos não ficaria bem numa história mais realista ou dramática (salvo geniais exceções como o filme “A rosa do Nilo”), mas os quadrinhos sempre oferecem recursos fantásticos nessa união entre imagem e texto, e cabe a nós utilizá-los ao máximo e, sem medo de desperdiçar inspiração, inventar coisas novas!

Espero comentários sobre a tirinha e também sobre o texto... afinal, preciso saber se existe mesmo um público lendo minhas divagações...

_____________________________________Erick Artmann


[1] Português : linguagens, 6ª série / William Roberto Cereja, Thereza Analia Cochar Magalhães. – São Paulo. Atual, 1998.

3 comentários:

  1. Mais uma vez nosso grande Erick, mostrando o valor da natureza ao mesmo tempo fundindo-se com o poema.

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  2. O uso dos quadrinhos nos livros didáticos e até em provas como as do Enen, é algo que veio para ficar. Aliás, a competência de interpretar outras linguagens além do texto escrito tradicional, é justamente um quesito avaliado nessas provas.
    Outra constatação que os educadores já assimilaram é a de que junto aos livros ilustrados infantis,os quadrinhos são, em muitos casos, a porta de entrada para o universo da leitura.
    A compreensão mais aprofundada do que constitui a linguagem que temos hoje também ajuda muito. Entender que existem outros níveis de linguagem além da norma padrão, como os regionalismos e o coloquial, proporcionaram a possibilidade de enxergar os quadrinhos de outra maneira, de adversários eles passaram a ser vistos como um importante aliado.

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  3. Ao me assentar para ler esta postagem sobre acentuação e outros afins lembrei-me do meu pai, sempre atento a essas mazelas do português. Na época leitura de jornais e outras publicações semelhantes, marcadas pela sua caligrafia bem desenhada.Também sempre fico arrepiado quando vejo erros.
    Em todo caso Ericson, boa pedida o seu texto e sua tirinha.

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